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Justificativa

O evento se justifica pela necessidade de divulgar junto aos jovens, o papel desempenhado por militares das Forças Armadas brasileiras, em especial a história da Força Expedicionária Brasileira (FEB), e sua luta pela democracia e a libertação dos povos contra a intolerância nazifascista, na Itália, entre 1944-1945.

Enquanto docente de História Contemporânea, da América e do Brasil, tenho observado com apreensão a polarização política de parte da sociedade brasileira, acompanhada pelo ressurgimento de discursos extremistas, antidemocráticos e prenhes de ódio irracional, assim como apologias a violência e incisivas manifestações de intolerância com relação ao “outro”, ao “diferente”. Além disso, temos observado esporádicos apelos a uma suposta “intervenção militar” como panaceia simplista para a resolução de complexos problemas nacionais em detrimento dos mecanismos instituídos do jogo democrático constitucional. Tais narrativas são duplamente ancoradas, tanto no desconhecimento histórico quanto na deturpação/negação da História, e nos remetem, invariavelmente, a tempos obscuros e não tão longínquos do nosso passado.

Cabe recordar que nos anos 1940, o Brasil, sob o jugo da ditadura de Getúlio Vargas desde 1937, esteve muito próximo, em vários aspectos, do nazi-fascismo. Contudo, pressões internas de diversos setores da população brasileira (civis, militares) e externas, por parte dos Aliados, especialmente dos EUA, levaram o Brasil a se alinhar a luta pela democracia liberal e contra o nazi-fascismo, mesmo que a contragosto do governo. René Gertz (2000, p. 215) destaca a amplitude da participação popular e da importância da opinião pública como um dos fatores (além das questões de cunho econômico-estrutural) que levaram o Brasil a participar da Segunda Guerra Mundial do lado da coalizão aliada antifascista.

Portanto, a efeméride da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, representado nos 75 anos da tomada de Monte Castello (21 de fevereiro de 1945), nos oferece uma oportunidade para refletirmos coletivamente sobre esta perigosa tendência autoritária e intolerante manifestada no nosso tecido social. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, dentro do vasto campo antifascista, nos oferece assim uma oportunidade de (re)discutirmos o período efetuando possíveis analogias com o presente onde, sem cair em anacronismos, possamos analisar e entender o processo, as rupturas, continuidades e, principalmente, os desdobramentos daqueles tempos que culminaram numa das maiores tragédias da humanidade, a Segunda Guerra Mundial. O tema não somente é fundamental para o conhecimento e compreensão do nosso passado de lutas históricas pela democracia, mas também para a consolidação da nossa jovem e imperfeita democracia no presente, destacando e valorizando que as Forças Armadas, como integrantes de uma sociedade organizada, também cumprem um papel fundamental na construção de uma nação soberana, democrática e justa.

Prof. Dr. Jorge Christian Fernández (UFMS).

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