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Uma breve história

Durante os anos de 1933 e 1940 o mundo presenciava a emergência global da Alemanha hitlerista, que a passos largos, tornava-se uma  concorrente expressiva aos Estados Unidos na disputa pela exportação de serviços, tecnologias e produtos industrializados para a América Latina. Nesta conjuntura a ditadura nacionalista de Getúlio Vargas mantém uma postura de alegada “neutralidade” no cenário internacional, mantendo  laços comerciais com a Alemanha e os Estados Unidos. Entretanto, embora internamente houvessem desentendimentos políticos com grupos simpatizantes ao projeto nazifascista, ainda assim, o Estado Novo estava permeado de animosidades aos regimes de espectro fascista. Algo que levantou desconfianças quanto as intenções brasileiras diante a diplomacia dos países ocidentais.

No entanto, uma guinada no alinhamento político do Estado Novo começa a se configurar com o enfraquecimento da ascensão do eixo nazifascista durante os anos de 1941 e 1942. Marcada com a entrada dos Estados Unidos ao esforço de guerra Aliado após os ataques da Marinha Imperial japonesa em Pearl Harbor e as derrotas emplacadas pelos soviéticos ao Eixo nos portões de Moscou. Na costa brasileira, somasse o torpedeamento de navios mercantes em fevereiro 1942, evento que provocou ondas de indignação nos setores civis e militares.

 

No Exército, integrantes "mais liberais" do corpo de oficiais manifestavam cotidianamente suas simpatias aos adversários do eixo nazifascista, provocando uma oposição entre a cúpula da “ditadura pretoriana” do Estado Maior brasileiro e seus subordinados (SODRÉ, 1965, p. 284). Nas ruas, protestos e movimentações populares convocadas por movimentos como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Liga de Defesa Nacional, Sociedade Amigos da América e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), exigiam a declaração de guerra as potências do Eixo.

Estes fatores fizeram com que as inclinações brasileiras ao bloco aliado tornassem mais favoráveis ao longo dos anos, aprofundando-se em 1942 com as exigências feitas por Delano Roosevelt na Conferência Pan-Americana sediada no Rio de Janeiro, com intuito de assegurar que as nações latino-americanas rompessem relações diplomáticas com o Eixo. As pressões norte-americanas, cujos quais cogitaram uma ocupação militar em solo brasileiro, vieram no sentido de concluir as demandas que o US State Department aprontaram para assegurar a implementação de bases da US Navy e US Army Air Force na porção norte e nordeste do território brasileiro como trampolim para afirmar o controle Aliado das rotas de tráfego marítimo do Atlântico Sul.

A declaração do estado de guerra veio em 31 de agosto de 1942 junto com a mobilização da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ªDIE) em julho de 1943. Acontecimento que provocou uma reviravolta na política externa de Getúlio Vargas, aproximando o regime a esfera de influência dos Estados Unidos em busca de conseguir acordos de cooperação tecnológica e industrial que contribuíssem para preponderância regional brasileira no cenário pós-guerra. 

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Aqueles que desembarcaram em Nápoles para integrar o teatro de operações do Mediterrâneo, foram imediatamente subordinados ao comandante divisional e em chefe, Marechal João Batista Mascarenhas de Moraes, para somar nos esforços do XV Grupo de Exércitos Aliados, no IV corpo do exército americano, incorporando o V Exército dos Estados Unidos do general Mark W. Clark. A FEB era composta de jovens entre 18 a 25 anos recrutados nas principais regiões urbanas, principalmente dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Desde o princípio foi uma força de composição multiétnica, repleta de descendentes de italianos, asiáticos, africanos e indígenas, destaca-se a participação de reservistas das etnias Terena, Kinikinao e Kadiwéu que incorporaram o 9º Batalhão de Engenharia de Combate (9º BECmb) em Aquidauana, MS (VERDE-OLIVA, 2015, p. 65). Em suma, foram formados três regimentos de infantaria, compostos de três batalhões de infantaria, cada qual com três companhias, seguindo-se o modelo organizacional americano. Contando com o suporte de sapadores, serviço de saúde, esquadrões de reconhecimento operando M8 Greyhounds e apoio das bocas de fogo de 105mm da Artilharia Divisionária.

Em termos militares, devido a complexa situação de debilidade profissional em que o Exército Brasileiro se encontrava durante as décadas 1920 - 1930, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) mobilizada através da Portaria Ministerial nº 4744 de 1943, surgiu como uma oportunidade de modernização do quadro de material bélico e de aspectos doutrinários ultrapassados, seguidos da aquisição de designs e de experiência operacional necessária para o emprego de armas combinadas. A inserção do Brasil no tratado de cooperação militar com Estados Unidos em 1942, acarretou o início das operações de patrulha aeronaval e de guerra antissubmarino no Atlântico Sul, com a Marinha do Brasil chegando produzir 3 destróieres a partir de designs estadunidenses. A força terrestre através do acordo Lend-Lease passou a receber unidades de carros de combate modelo leve M3 Stuart e a versão média Lee, juntamente com os famosos M4 Sherman. A Força Aérea Brasileira (FAB) emergida da junção das unidades aéreas de asa fixa da Marinha e Exército, passaram a operar os modelos Curtiss P-36A, P-40, os B-25 Mitchell e aeronaves de reconhecimento marítimo PBY Catalina. Enquanto que os oficiais do Exército Brasileiro eram enviados para receber instruções nas academias militares dos EUA. (MAXIMIANO; NETO, 2011, p. 5-7).

Ao todo cerca de 25,334 combatentes brasileiros foram à guerra externa, ao passo que milhares de "anônimos" sacrificaram as suas vidas no fronte interno, na ainda desconhecida "batalha da borracha" no interior dos seringais do Vale Amazônico. Com o bloqueio japonês as zonas inglesas produtoras de borracha do sudoeste asiático, o látex brasileiro tornou-se vital para a continuidade esforço de guerra aliado.

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Das grandes façanhas realizadas pelos combatentes brasileiros durante o rompimento da Linha Gótica, cabe destacar o número de alemães e italianos capturados que somam cerca de 14,779 POWs, sendo a rendição da 148. Infanterie-Division o maior troféu de guerra dos pracinhas brasileiros. Resultado de intensos combates entre 1944 e 1945, onde os febianos puderam demonstrar o seu valor executando dezenas incursões contra o inimigo nas regiões do vale do rio Serchio, Massarosa, Camaiore, Monte Prano, Soprassasso, Castelnuovo e etc (LIMA, 2016, p. 102-109). Contando com o apoio aéreo da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação e das surtidas do 1º Grupo de Aviação de Caça “Senta a Púa”, operando os famosos P-47 Thunderbolt cedidos a recém criada Força Aérea Brasileira.

Durante a exitosa Operação Encore, os brasileiros enfrentaram condições climáticas adversas e os terríveis “pés de trincheira” (gangrena nos pés) com o rigoroso inverno das regiões Apeninas chegando a 20 graus negativos. Através desta, previa-se a captura de Monte Castello a partir de uma pinça de ataque com o emprego da 10ª Divisão de Montanha estadunidense e do Regimento Sampaio (1ºRI) apoiado pela Artilharia Divisionária, no quinto ataque Castello caiu nas mãos dos brasileiros, avançando vitoriosos na direção oeste, por La Serra, Santa Maria Viliana, Torre di Nerone e Castelnuovo, contribuindo com mais dois regimentos (6º e 11º) nas operações no vale do Marano. Em Montese, os pracinhas tiveram que enfrentar toda sorte de emboscadas e armadilhas no combate corpo a corpo, casa por casa, carregando cerca de 25kg de equipamento se esgueiravam sobre as rochas, buscando cobertura frente as temerosas “Lurdinhas” — como foi apelidada as metralhadoras Maschinengewehr 42. Após Montese,  as portas de acesso para as planícies do vale do rio Pó estavam abertas. Avançando  pelo oeste de Fornovo até a área ao redor de Alessandria. Culminando a sua vitoriosa trajetória e rápida desmobilização em 1945 ainda em solo italiano.

Prof. Lucas Lima da Rocha, graduado em História pela UFMS.

CARRION, Alexandre Luckemeyer Machado. Participação do Brasil na segunda guerra mundial: consequências e contribuições para a evolução do exército brasileiro. História Militar-Unisul Virtual, 2010.

CASTRO, Celso; IZECKSOHN, Vitor; KRAAY, Hendrik. Nova história militar brasileira. Editora FGV, 2004.

GONÇALVES, José; MAXIMIANO, Cesar Campiani. Irmãos de armas: um pelotão da FEB na II Guerra Mundial. São Paulo, SP: Códex, 2005.

LIMA, Cipriano Antônio Oliveira et al. A Importância das Batalhas da Força Expedicionária Brasileira. O Adjunto: Revista Pedagógica da Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas, v. 4, n. 1, p. 99-110, 2016.

MAXIMIANO, Cesar Campiani; NETO, Ricardo Bonalume. Brazilian Expeditionary Force in World War II. Osprey Publishing Ltd, 2011.

_____________, Cesar Campiani. Barbudos, sujos e fatigados: soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial. Grua, 2010.

OLIVEIRA, Denílson de; ROSTY, C. S. A Força Expedicionária Brasileira e a Segunda Guerra Mundial–Estudos e Pesquisas. DECEx–DPHCEx–CEPHiMEx, Rio de Janeiro, 2012.

SODRÉ, Nelson Werneck. História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.

Revista Verde-Oliva. Centro de Comunicação Social do Exército. Brasília-DF, Ano XLII, nº 228, julho 2015.

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